Quer tenha sido O Renascido, O Quarto ou A Queda de Wall Street a ganhar o Óscar de Melhor Filme, uma coisa é certa: a estatueta de ouro de 24 quilates poderá valer "apenas" cerca de 900 dólares (pouco mais de 820 euros) caso pudesse ser vendida na ourivesaria mais próxima. Mas os ganhos para o filme serão bastante superiores a isso.
De acordo com o site BoxOfficeQuant, que avaliou as bilheteiras dos filmes oscarizados entre 1999 e 2013, um título que ganhe o Óscar de Melhor Filme poderá ter um aumento nas receitas na ordem dos 14 milhões de dólares (cerca de 12,8 milhões de euros).
O Óscar de Melhor Realizador poderá valer mais 11 milhões de dólares (10 milhões de euros) no box office, a Melhor Atriz poderá ajudar as receitas com mais 2,3 milhões (2,1 milhões de euros) e o Melhor Ator cerca de um milhão de dólares (quase 815 mil euros).
Só o facto de um filme estar nomeado em alguma destas categorias já influencia os resultados: uma nomeação para Melhor Filme poderá aumentar em cerca de 60% as receitas de bilheteira. Um número que não surpreende Susana Barbato, administradora da NOS Audiovisuais: "As nomeações e os Óscares são como um selo de qualidade, uma validação. E isso atrai muitos espectadores."
See Also5 Oscar takeaways from the 2025 Golden Globes, including why Demi Moore could win Best ActressE lembra-se imediatamente do que aconteceu com Boyhood, de Richard Linklater, um filme que começou por ser um fenómeno indy e que ganhou enorme projeção quando começou a aparecer nas listas de melhores do ano 2014.
Também Nuno Sousa, diretor de operações da UCI - Cinemas Portugal, não tem dúvidas: "É óbvio que os Óscares influenciam o público. Este é um dos melhores momentos do ano em termos de bilheteira."
A afluência aos cinemas aumenta sempre por altura do Natal e depois prolonga-se por janeiro e fevereiro - conhecida como a temporada dos prémios. "É uma altura em que a programação das salas é particularmente rica, em que se estreiam muitos dos filmes que estão nomeados para os Óscares e que também ganham outros prémios."
Por outro lado, a nomeação para os Óscares permite uma nova estratégia de marketing para chamar a atenção para um título que poderia estar já prestes a sair do circuito e é também uma forma de ir buscar um tipo de espectadores diferentes para os filmes. "Há filmes que ganham uma nova vida", afirma Susana Barbato. "Tentamos que os filmes fiquem mais tempo em cartaz, para que as pessoas possam vê-los", diz Nuno Sousa.
Foi o que aconteceu em 2006 com The Departed - Entre Inimigos, de Scorsese, que se manteve em exibição de novembro a fevereiro. Tal como aconteceu neste ano com A Ponte de Espiões, de Spielberg, que ainda pode ser visto numa única sala dos cinemas UCI em Lisboa. Mad Max: Estrada da Fúria, que se estreou em Portugal em maio do ano passado, voltou aos cinemas por um par de semanas em janeiro e ainda neste fim de semana o Cinema Ideal, em Lisboa, fez uma sessão especial com este filme de George Miller.
Pedro Borges, da Midas Filmes, mostra-se bastante cético em relação ao impacto dos Óscares na bilheteira: "Uma mão-cheia de Óscares pode fazer alguma diferença, sobretudo se o filme se tiver estreado há poucas semanas. Hoje os filmes são "todos" lançados em mais de 50 ou 70 cinemas (em Portugal) e desaparecem de circulação [dos cinemas] em poucas semanas. Têm é uma vida muito mais longa noutros meios e suportes (VOD, videoclubes dos operadores, canais premium, DVD e BluRay e por aí fora). E aí, sim, os Óscares contam", diz. Até porque "hoje toda a gente vê tudo em todo o lado".
A verdade é que para ter muitos espectadores um filme precisa ter uma boa distribuição. E, no caso dos filmes mais pequenos, isso não seria possível se não houvesse nomeações aos Óscares. Isso terá acontecido no ano passado, de acordo com os analistas, com Birdman, de Iñarritu, que, logo após a nomeação, teve um aumento de espectadores nos EUA na ordem dos 162%. Algo semelhante aconteceu em 1999 com American Beauty, de Sam Mendes: antes das nomeações, as receitas de bilheteira no mercado americano situavam-se nos 64,2 mil dólares (58,7 mil euros), depois chegou aos 5,5 milhões de dólares (pouco mais de 5 milhões de euros).
A conclusão é óbvia: mesmo se os Óscares levarem alguns espectadores a ver Perdido em Marte, de Ridley Scott, são os filmes mais pequenos que mais ganham com as nomeações. Pedro Borges sublinha que "um Óscar de Melhor Filme Estrangeiro - no mercado português - pode ter uma importância considerável, porque fará as televisões falarem dele. Uma vez que sem isso é como se o filme não existisse, ganhar o Óscar é importante".
Neste ano, o filme que mais terá beneficiado deste interesse dos espectadores pelos Óscares terá sido Room - O Quarto. Produção britânica, teve estreia "limitada" nos EUA, ou seja, em salas de cinema selecionadas, a 16 de outubro. No dia em que foram anunciados os nomeados aos Óscares, o filme de Lenny Abrahamson tinha conseguido apenas 5,2 milhões de dólares (4,7 milhões de euros) de receitas de bilheteira na América do Norte e tinha sido apresentado em apenas 200 salas de cinema. No fim de semana seguinte, já estava em exibição em 300 salas, tendo chegado depois às 900 salas. Neste momento, depois de um Globo de Ouro para a atriz Brie Larson e de outros prémios recebidos entretanto, O Quarto já terá conseguido mais de 12,7 milhões (11,6 milhões de euros) de receitas de bilheteira nos EUA.
Os muitos artigos de jornais e entrevistas na televisão dão uma visibilidade maior a estes filmes, que podem acabar por ofuscar outros títulos que se estreiem nestes meses. "É normal as pessoas quererem ver todos os filmes que estão nomeados até à noite dos Óscares", explica Susana Barbato. E, segundo os dados de box office disponibilizados no site do ICA - Instituto do Cinema e Audiovisual, também é normal que esse interesse se mantenha na semana após a cerimónia: este é o momento para recuperar o atraso e ver os filmes vencedores.